No passado dia 9 de Maio de 2022, a Skymedical promoveu um Surgeon to Surgeon na área da artroscopia da anca, um momento formativo onde um cirurgião ou um grupo de cirurgiões junta-se a um especialista da área para adquirir conhecimentos em contexto cirúrgico.
Assim, tivemos o gosto de incentivar esta ação com o envolvimento do Dr. André Pinto, cirurgião ortopédico com interesse na área da artroscopia da anca, que acompanhou a equipa de cirurgiões composta pelo Dr. Pedro Simas, Dr. João Sarmento Esteves, Dr. David Pinto e Dr. Miguel Pádua na realização de diversos procedimentos, com especial destaque para a realização de duas Artroscopias da Anca em desportistas com patologia articular da anca, previamente preparados e estudados pelo Dr. João Sarmento Esteves.
Após a realização deste Surgeon to Surgeon, a Skymedical apurou ainda o feedback e testemunho dos envolvidos, que confirmaram ser uma acção extrema importância na formação médica.
Skymedical: Como surgiu o interesse pela artroscopia da anca e, o que o levou a querer saber mais sobre este tema?
Dr. André Pinto: Desde o internato de formação específica em Ortopedia que venho a interessar-me pela patologia da anca. Na altura só era abordada a patologia da anca em idade pediátrica e a patologia degenerativa ou complicações de Artroplastias. Era das poucas áreas em que não se falava em patologia no adulto jovem. Pesquisei sobre o assunto e fui a vários congressos onde estava “na moda” falar de conflito femoro-acetabular bem como outras patologias do jovem adulto passiveis de tratar por artroscopia / endoscopia. Desde então que tenho vindo a estudar sobre o tema e a tentar aproximar-me de Experts na área para eu mesmo vir a desenvolver a técnica.
Skymedical: Qual a importância deste tipo de acções durante a formação médica, considera relevantes?
Dr. André Pinto: Os eventos de Surgeon to Surgeon são de crucial importância. Permitem partilhar experiências de casos clínicos, metodologias de trabalho, responder a dúvidas, experienciar no campo as técnicas cirúrgicas, tips and pearls e dificuldades técnicas das mesmas. Permite sobretudo criar pontes de suporte interpares para continuar a evoluir na oferta terapêutica aos doentes.
Skymedical: Qual a importância do envolvimento de terceiros, como as sociedades, indústria de dispositivos médicos, entre outras entidades, no processo de formação médica?
Dr. Pedro Simas: O papel da indústria é cada vez mais relevante no processo formativo, por dois motivos: O primeiro devido à deterioração cada vez mais acentuada desse processo formativo nos Hospitais Públicos que eram, por excelência, os locais onde esse processo acontecia e evoluía. Essa deterioração afeta sobretudo a formação cirúrgica e a aquisição de Skills cirúrgicas. Não é novidade nenhuma que um cirurgião se forma a operar, quanto mais cirurgias fizer e quando mais diferenciadas elas forem, melhor e mais sustentada é a sua formação. A nossa especialidade, salvo algumas exceções, é especialmente afetada por isso, uma vez que a maioria dos Serviços estão asfixiados pela Traumatologia ficando a cirurgia Ortopédica relegada para segundo plano, engrossando as listas de espera, acontecendo estas na maioria das vezes em contexto de cirurgia adicional, espaço pouco vocacionado para a formação. Penso que este ainda é um problema pouco levantado e discutido, mas que terá uma importância devastadora nos próximos anos.
O segundo motivo tem a ver com a inexorável evolução tecnológica e digital. Essa evolução torna o processo formativo mais complexo e mais demorado! No caso da nossa especialidade, a subespecialização surge como resposta a essa complexidade e os constrangimentos orçamentais com os quais nos deparamos atualmente vêm complicar, não só a evolução como também a formação.
Portanto, por estes dois motivos a Indústria terá um papel cada vez mais importante no processo formativo. Quer por proporcionar um “espaço” onde ele pode acontecer, com cursos formativos, visitas cirúrgicas, cursos em cadáver…quer por colocar à disposição do cirurgião em formação toda a evolução tecnológica, novos materiais e técnica cirúrgicas.
Sem estas duas vertentes, Prática (Hands On) e Evolutiva (Hands In The Future) o processo formativo cirúrgico fica irremediavelmente comprometido.”
Skymedical: Como é estar no papel de “tutor” na formação médica? Considera que esta também é uma vertente importante dentro das Skills que deve ter um cirurgião?
Dr. Pedro Simas: A base da formação Médica e Cirúrgica sempre foi, e diria que sempre será…interpares! Ou seja, cirurgiões foramam cirurgiões! E eu acredito que este não é um processo unidirecional, em que um ensina e outro aprende. É um processo de mútua aprendizagem e partilha. Portanto, e respondendo às duas questões, estar no papel de “tutor” é, não só, um privilégio como também fundamental para a formação contínua e constante de um cirurgião, mesmo um cirurgião com experiência.
O processo de ensino coloca-nos desafios, faz-nos questionar, faz-nos recuar e repensar, faz-nos evoluir e, coloca-nos, na minha opinião, o maior dos desafios (e é desta forma que eu vejo a formação médico) a responsabilidade e “obrigação” de formar cirurgiões melhores que nós mesmos. “O aluno tem que ultrapassar o mestre”, não penso, nem imagino, o processo formativo de outra forma.
Se eu enquanto cirurgião, daqui a 20 anos, estiver a fazer o mesmo que faço hoje, alguma coisa correu mal!
O processo formativo faz-nos questionar, obriga-nos a mudar e impele-nos a evoluir! Porque no “final do dia” o mais importante é termos a capacidade e os Skills para oferecer ao “nosso” doente o melhor tratamento possível. E isto só se consegue através de um processo formativo contínuo.”
Na foto, da esquerda para a direita:
Dr. David Pinto, Dr. João Sarmento Esteves, Dr. André Pinto, Dr. Pedro Simas, Veronica Valverde (Skymedical Sales Representative) e Gonçalo Serra (Skymedical Sales Representative)